A escassez de moeda circulante, especialmente nas regiões mais afastadas da capital do Império, tornava impossível o pagamento de salários e pequenas transações. Por essa razão, muitos particulares, fazendeiros, comerciantes, concessionários de minas e empresas em geral, passaram a cunhar um grande número de moedas (fichas) próprias, em forma de plaquetas ou de carimbos aplicados, sobre moedas que circulavam na época.

Esse procedimento, apesar de ilegal, tinha função econômica e, portanto, é de interesse histórico.

Nos sistemas econômicos fechados das fazendas e das minas, essas peças tinham um valor fiduciário decorrente do poder e da credibilidade de quem as emitia, funcionando como "vales" metálicos.

O "Catálogo das Moedas Brasileiras" de Kurt Prober, (3ª edição, páginas 132 a 137) reproduz nada menos que 279 carimbos diferentes.

Augusto de Souza Lobo, na pág. 181 do seu livro "Catálogo da Collecção Numismática Brasileira", assim se exprime a respeito dos carimbos particulares:

"A escassez da moeda auxiliar nos primeiros quarenta anos do Segundo Império, em contraste com o desenvolvimento comercial do país, foi causa do expediente a que recorreram muitos particulares, carimbando a moeda de cobre, na qual imprimiam sinais convencionados, dando-a em troco por um valor fictício, hoje desconhecido, mas que o público tacitamente aceitava.

Os que se limitavam a carimbar a moeda de cobre, ocultando-se sobre os monogramas ou iniciais dos seus nomes, eram provavelmente os mais tímidos; outros, porém, mais ousados, fizeram largas emissões de avultadas somas com os seus nomes e o valor impressos, com temerária ostentação, como se vê nas moedas particulares gravadas nas Estampas CXII a CXV”.

Esses primeiros parágrafos são de Eugenio Vergara Caffarelli.

A origem dos carimbos particulares

A origem dos Carimbos Particulares, que encontramos em tão grande abundância, aplicados nos cobres imperiais e coloniais brasileiros, pode assim ser explicada.

De 1849 até 1871 não houve emissão de moedas de 100 réis, e o comércio já habituado a utilizar-se deste novo nominal, introduzido em 1834 na série dos cruzados, e cuja necessidade ainda mais se fazia sentir depois da introdução do sistema decimal entre nós, cada vez mais se ressentia da falta deste valor nos trocos.

Havia abundância de 200 réis (de prata), mas faltava totalmente o "tostãozinho", mesmo porque as emissões dos cruzados tinham sido pequeníssimas, e para fazer este troco com o cobre de valor reduzido, havia necessidade de pelo menos 3 moedas, duas de 40 e uma de vinte.

Aliás, a fim de esclarecimento convém mencionar aqui, que a Lei nº 109 de 11 de outubro de 1837, mandou cessar a aplicação do Carimbo Geral, passando daí em diante o valor dos cobres em circulação para a metade do valor facial primitivo, carimbado ou não.

Diante destes fatos o comércio do interior, onde sempre com maior impetuosidade se fazia sentir a falta de troco, lançou mão do recurso da emissão de moeda particular, tão em voga na maioria dos países da América Latina na segunda metade do século passado.

Ora, não havendo no Brasil nenhuma indústria que então pudesse encarregar-se da cunhagem de moedas particulares, que tinham de ser cunhadas no estrangeiro, já que a Casa da Moeda do Rio não o podia fazer, passou-se a usar as próprias moedas em curso, contramarcando o cobre existente em grande profusão, apegar das constantes tentativas de recolhimento por parte do governo.

Catálogo de carimbos particulares

No correr de mais de 20 anos de lides numismáticas, pude examinar cerca de 2.000 cobres assim carimbados, encontrando até aqui 279 contramarcas diferentes de letras, cifras e datas, que a seguir são todas elas reproduzidas, em ordem rigorosamente alfabética para mais fácil classificação, mas havendo no fim algumas fora de ordem, por terem sido encontradas posteriormente.

Todos os carimbos foram reproduzidos em tamanho natural, sendo ampliados ao dobro apenas os de nº 30, 39, 46, 60, 97 e 137, que juntamente com os de nº 19, 25, 132 e 220, a meu ver, são "Marcas de Prateiros ou Ourives".

As letras, ou combinações de letras, nada mais eram do que iniciais de nomes de fazendeiros, nomes de engenhos, negociantes ou firmas comerciais, e serviam as contramarcas para dar às moedas assim carimbadas um valor convencional, normalmente maior do que o facial ou circulatório primitivo da peça, garantindo o carimbo do emissor — pessoa ou firma de todos conhecido no lugar como de boa reputação — o seu futuro recolhimento. Só considero CARIMBOS feitos com cunhos próprios.

Assim, por exemplo, sabemos que o carimbo IC (nº 111) em 40 réis valia 100 réis e em moeda de 80 valia 200 réis, na fazenda de Ivo de Carvalho, em Mar de Espanha (Município do Sul de Minas).

Encontrei até agora, em moedas de 40 réis, os carimbos seguintes: nº 1, 10, 13, 34, 40, 84, 85, 87, 96, 110, 116, 120, 125, 148, 158, 160, 167, 170, 181, 186, 188, 189, 191, 200, 207, 209, 219, 226, 229, 235, 239, 252 e 269, e os números em negrito simultaneamente em moedas de 80 réis.

Seja qual for a história destes carimbos, o fato é que aí estão, e em grande quantidade não havendo dúvida, que só depois de postos em circulação os níqueis de 1901, cessou a falta de troco, sendo então finalmente recolhidos os cobres grandes do Império e da Colônia, por decisão pela Circular nº 26 de 19 de agosto de 1907.

As peças reproduzidas sob nº 278 e 280 são moedas particulares, cuja história pretendo publicar oportunamente.

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Esse artigo foi originalmente publicado por Kurt Prober no "Catálogo de Moedas Brasileiras de Cobre" em 1957.

Uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Numismática (SNB) de reunir os artigos publicados pelos numismatas que, com seu árduo trabalho, elaboraram importantes estudos sobre as moedas brasileiras, republicou-o em 08 de junho de 2007 (1ª edição).